segunda-feira, 8 de junho de 2009

O Mito do Kitsch

Abra a Veja. La consta uma matéria de duas páginas classificando o exercício do violinista Joshua Bell e as obras de Andrea Bocelli de kitsch. A matéria é concluída da seguinta maneira: "Neles (os discos), o ouvinte pode ser malandramente enganado." Culpa da Veja? Pra você que gosta de academicismo então, direto do túnel da Cultura Brasileira, Éclea Bosi vomita incontáveis páginas no esforço de repudiar o kitsch. "Cultura de Massa e Cultura Popular" - Recomendo como leitura de banheiro, única e exclusivamente.
Qual o problema com o kitsch? Tem papel higiênico pregado no sapato dele? Um alface no dente? O pobre kitsch anda estigmatizado. Associado com cultura brega, midcult safado entre outros palavrões, é sinônimo de ser intelectual falar mal. Esse é um sintoma muito triste.
Cultura de baixa qualidade está estampada no nosso rosto, do erudito ao popular. O kitsch de baixa qualidade existe, caso contrário, as cortinas da sua avó se sentiriam perdidas. Falham em perceber, contudo, que a cultura erudita pode não causar emoção nenhuma além de puro tédio em um cidadão, mas que o nosso desmerecido kitsch pode arrebatá-lo e o fazer se sentir único daquela forma que só a melhor das obras pode fazer.
Joshua Bell ganhou um Grammy. Bach foi levado à segunda premiação mais assistida do mundo, aplaudido por 7 milhões de pessoas. A crítica constante ao kitsch é um sintoma de que a intelectualidade vive cercada do dogma dos intocáveis, do zelo pela cultura erudita. O meio que fala tanto de mundo se isolou dele e agora prefere ser cercado apenas por ele mesmo.
Cultura de qualidade é causar emoção, é causar resposta e despertar o interesse sincero. Comunicólogos, resistam. Sejam a lembrança constante de que público alvo nunca pode ser esquecido e é ele quem deve julgar o que é bom e o que é ruim. Não se percam no mito do Kitsch. Apropriar o erudito e transformá-lo para outro público não é crime, é arte, e pode ser do mais alto nível.